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E Agora, Marvin?


“O que é que tenho que fazer com essa rena, heim, gente?” - essa foi a última frase que eu li no grupo de whatsapp da escola da minha filha antes de entrar no avião para a tão esperada volta “pra casa”, que há muito tempo não acontecia.

Era dia 14 de fevereiro de 2020. Milão ainda estava a mil por hora, no calor da semana de moda, se preparando para o recesso da semana seguinte, conhecido como “Settimana Bianca” - o auge da temporada de esqui no norte da Itália.

Bem longe das colinas brancas, eu não via a hora mesmo era de passar os 10 dias que estavam programados em Bragança Paulista e região!


Fazia 3 anos que não conseguíamos viajar ao Brasil e aquela era a semana ideal, já que teríamos a quarta-feira de cinzas pra viajar de volta, refazer-nos do “jet-leg” e voltar à rotina na semana seguinte, enquanto que, na Lombardia, estariam esquiando, na mais perfeita paz, harmonia e glamour à moda italiana...

Entrei no avião aliviada porque ainda não tinha chegado o nosso momento com o ser mais temido por todas as mamães da classe da minha filha: o Marvin  - a rena de pelúcia que passa os finais de semana com as famílias da turma! Passear com a rena à tira-colo, documentar tudo no diário da classe na volta da viagem - e ainda correr o risco de extraviá-la na bagagem - não estava nos meus planos!

Mas adivinhe o que também não estava nos meus planos...

Honestamente, foi uma sensação de ter despertado de um coma profundo que pareceria ter durado anos. Em menos de uma semana, (2 dias, para ser mais precisa), diagnosticou-se o primeiro caso em Codogno, instaurou-se o caos e a Milão que eu tanto adoro se transformou nisso tudo que estamos vendo nessas últimas semanas.

Comecei a entrar em contato com as minhas amigas, perguntando se era tudo verdade: a escassez nos supermercados (trauma profundo dos anos em que morei em Caracas, na Venezuela), o pânico generalizado, tudo fechando, e para meu desespero, era tudo verdade mesmo. A mídia não estava exagerando.

Meus 10 dias no Brasil já acabaram se transformando em mais de 40, e estão sendo prorrogados, sem prazo. Os vôos começaram a ser cancelados um a um e, por mais que houvesse uma opção do regresso, ela não seria, de fato, uma opção.

Por um lado, ver meu pai carregando a “nipotinha” (nipote é neta, em italiano) de cavalinho nos ombros pela casa não tem preço... por outro, foi uma mudança radical na vida da minha “bambina”; temporária, porém radical, já que o ela quer mesmo é voltar para o universo dela, o quartinho, os brinquedos, a escola. Vai fazer uma criança de 4 anos entender exatamente o que nem mesmo nós entendemos - porque essa é a verdade: nós acatamos a situação, mas entender, mesmo, não entendemos...

A única certeza que eu tenho hoje é que já não temo a chegada do Marvin em casa; pelo contrário, é o que mais desejamos neste momento: o retorno à vida normal.

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