Agora não tem mais jeito, pessoal: dezembro está chegando mesmo! Aqui em Milão, estamos aguardando o término da segunda quarentena do ano e, com ela, esperando que as luzes e toda a tradição do natal tragam um pouco do aconchego espiritual que estamos precisando tanto.
Acredito que aconchego, na verdade, seja algo que represente bastante o natal, assim como família, casa, tradições e memórias. Por isso, escrever sobre as tradições do natal é entrar com tudo no universo das lendas que acompanham a humanidade há milênios. E é exatamente isso que ando fazendo ultimamente: deixando que a História e a Literatura ocupem mais espaço na minha cabeça que os jornais...
Falando, então, em lendas e tradições, escolhi um símbolo delicioso do natal italiano, que também faz parte da nossa mesa brasileira nos meses de dezembro, pra começar o passeio gastronômico-cultural deste final de ano: o panetone!
Quem aí sabia que o panetone é típico de Milão? Essa é a única verdade, aparentemente, incontestável; o resto é tudo lenda, e são muitas! As versões mais conhecidas sobre a história do panetone são a do Toni e a do Ughetto (e suas muitas derivações!), mas encontrei também uma versão celta, muito mais antiga, porém não menos fascinante, e vou contar aqui também!
Vamos começar, então, pela versão do Toni, que é a mais simples: dizem que, por volta de 1500, estavam celebrando o natal na corte do Duque de Milão e a sobremesa que seria servida para a nobreza toda acabou, acidentalmente, queimando no forno! (Imaginem o desespero do coitado do cozinheiro! Eu estaria em absoluto pânico!)
Então, dando voltas na cozinha para remediar a situação, o “chef” encontrou um pão que um dos ajudantes (o Toni!) tinha preparado, com os restos da sobremesa principal – manteiga, ovos, farinha e frutas cristalizadas – para celebrar o natal entre os empregados. Sem alternativa, o “chef” resolveu, então, servir o “pão do Toni” – “pane di Toni”, em italiano – para o Duque e seus convidados. Aquela sobremesa nova acabou se tornando um sucesso absoluto, na corte e fora dela, e perdurou no tempo até os dias de hoje!
Já a lenda do Ughetto é praticamente uma versão de “Romeu e Julieta” à moda milanesa, só que com final feliz: diz-se que Ughetto era um moço rico, que lidava com os falcões do Duque de Milão (aquelas tradições de caça de antigamente), e se apaixonou pela Adalgisa, filha de um padeiro que, aparentemente, estava meio falido.
Como a família do moço foi contra o romance, o Ughetto decidiu fazer alguma coisa para melhorar a situação econômica da padaria do possível futuro sogro: inventou um pão à base de manteiga, frutas cristalizadas e ovo que se tornou um sucesso! Com isso, as vendas e a reputação da padaria melhoraram, assim como as finanças da família da Adalgisa... (e eles foram felizes para sempre, espero!)
Dessa última versão, temos duas hipóteses para o nome panetone: a primeira é a possível derivação da expressão “pane di tono”, que significava “pão de luxo”, no dialeto milanês da época. Era costume, em ocasiões festivas, a exemplo do natal, consumir algum pão mais elaborado, como esse que o Ughetto inventou. Dessa maneira, o “pane di tono” vendido naquela padaria poderia ter se transformado em “panetone”! Tem lógica!
A outra possibilidade tem a ver com um dos ingredientes do panetone: a uva-passa que, em italiano, é “uvetta”. Bem poderia ter passado, com o tempo e os dialetos, de “pane di uvetta” a “pane di ughetto” e por aí vai!
Se essas lendas, que aparentemente tiveram origem por volta de 1500 da Era Cristã, já nos parecem perdidas no tempo, imaginem esta que vou contar agora, que descobri em um livro chamado “Milano Insólita e Secreta”, escrito por Massimo Polidoro: a da possível origem celta do panetone, uns 600 anos antes de Cristo!
Essa era a época na qual os povos celtas habitavam a região dos Alpes. Eles se estabeleceram em uma planície, que ficou conhecida como “Mediolanum”, que significa “terra do meio”. Com o passar do tempo, Mediolanun se transformou em Milano, ou seja, Milão!
Em outras palavras, aparentemente, Milão foi fundada pelos celtas que, entre os meses de dezembro e fevereiro, celebravam o solstício de inverno e o consequente início do período em que semeariam a terra para o ano seguinte. Para essas celebrações, os druidas, que eram os sacerdotes, compartilhavam um pão feito à base de cevada, uva e maçãs, considerado sagrado.
Quando os romanos dominaram a região, ainda pelo menos uns 200 anos antes de Cristo, alguns rituais dos celtas foram incorporados aos dos romanos, que também possuíam vários. Um desses rituais, que coincidia com os dos celtas, era a celebração do solstício de inverno. Para essa ocasião, os romanos acendiam muitas tochas para iluminar a noite, comiam muito e, ao final, também compartilhavam uns pães doces, bem parecidos com os dos celtas, preparados com cevada, frutas e mel – alguma semelhança com nossa celebração atual do natal?
A partir daí, foi só uma questão de alguns séculos até dezembro ser associado ao nascimento de Cristo (há teorias que indicam que Jesus teria nascido, na verdade, entre março e abril) e todas as tradições se juntarem, transformando o panetone em alimento típico do natal na península italiana há tanto tempo.
Sinto que me empolguei na viagem e foi só o começo! A riqueza cultural da Itália é assim: as origens se perdem no tempo, mas perduram na nossa vida, sem que sequer imaginemos! Continuarei com as lendas de natal nos próximos posts! Ainda falta contar o que descobri sobre o pandoro e o pandolce genovês, os primos do panetone que vêm do Vêneto e da Liguria! Não percam!
Versión en Español
Diciembre está llegando, ¡ya no hay nada que hacer! Aquí en Milán, estamos esperando el final de la segunda cuarentena del año y, con ella, deseando que las luces y toda la tradición navideña traigan un poco de la paz espiritual que tanto necesitamos, sobretodo este año.
Creo que la paz interior, de hecho, es algo que representa mucho el sentido de la Navidad, así como la familia, el hogar, las tradiciones y los recuerdos de uno. Por eso, escribir sobre tradiciones navideñas significa adentrarse en el universo de las leyendas que acompañan a la humanidad desde hace milenios. Y ello es exactamente lo que he estado haciendo últimamente: estoy dejando que la Historia y la Literatura ocupen más espacio en mis pensamientos que los periódicos...
Hablando, entonces, de leyendas y tradiciones, elegí un símbolo delicioso de la Navidad, que también forma parte de nuestra mesa latina en diciembre, para iniciar el recorrido gastronómico-cultural de hoy: ¡el panetón!
¿Sabían que el panetón es típico de Milán? Ésta es la única verdad aparentemente indiscutible; el resto es todo leyenda, ¡y hay muchas! Las versiones más conocidas de la historia del panetón son la de “Toni” y la de “Ughetto” (¡y sus múltiples derivaciones!). Sin embargo, encontré una versión mucho más antigua, de origen celta, ¡y se la contaré aquí también!
Empecemos, entonces, con la versión de Toni, que es la más sencilla: dicen que, hacia el año 1500, estaban celebrando la Navidad en la corte del duque de Milán y el postre que se serviría para toda la nobleza terminó, accidentalmente, ¡quemándose en el horno! (¡Imagínese la desesperación del pobre cocinero! ¡Yo estaría en pánico absoluto!)
Dando vueltas y vueltas en la cocina para intentar arreglar la situación, el “chef” encontró un pan que uno de los ayudantes (¡Toni!) había preparado, con los restos del postre principal - mantequilla, huevos, harina y fruta confitada - para celebrar la Navidad entre los empleados del Duque. Sin otra alternativa, el “chef” decidió servir el “pan de Toni” - “pane di Toni”, en italiano - al Duque y a sus invitados. Ese nuevo postre fue todo un éxito, ¡y ha perdurado hasta hoy!
La leyenda de Ughetto, en cambio, es prácticamente una versión milanesa de “Romeo y Julieta”, pero con final feliz: se dice que Ughetto era un joven de familia rica, que cuidaba a los halcones del duque de Milán (esas tradiciones de caza de antaño), y que se enamoró de Adalgisa. Ella era hija de un panadero que, al parecer, estaba un poco arruinado.
Como la familia del joven estaba en contra del romance, Ughetto decidió hacer algo para mejorar la situación económica de la panadería del posible futuro suegro: ¡inventó un pan a base de mantequilla, frutas confitadas y huevos que les encantó a los milaneses! Las ventas y la reputación de la panadería, por ende, mejoraron, al igual que las finanzas de la familia de Adalgisa... (¡y fueron felices para siempre, espero!)
De esta última versión, sacamos dos hipótesis para el nombre panetón: la primera es la posible derivación de la expresión “pane di tono”, que significaba “pan de lujo”, en el dialecto milanés de la época. Era costumbre, en ocasiones festivas, como la Navidad, consumir algún pan más elaborado, como el que inventó Ughetto. De esta forma, ¡el “pane di tono” vendido en esa panadería podría haberse convertido en el “panettone” – panetón, en Español!
La otra posibilidad tiene que ver con uno de los ingredientes utilizados: la uva pasa que, en italiano, se dice “uvetta”. A lo largo del tiempo y los dialectos, el término podría haberse convertido de “pane di uvetta” a “pane di ughetto” y así sucesivamente, hasta llegar a “panettone”.
Si esas leyendas, que aparentemente se originaron en los años 1500 de la Era Cristiana, nos parecen perdidas en el tiempo, imagínese esta que voy a contar ahora: la descubrí en un libro llamado “Milano Insólita Y Secreta”, escrito por Massimo Polidoro. La hipótesis es la de un posible origen celta del panetón, ¡unos 600 años antes de Cristo!
En esa época, los pueblos celtas habitaban los Alpes. Se establecieron asimismo en la parte baja de las montañas, una planicie que pasó a ser denominada "Mediolanum", algo como "tierra del medio". Con el paso del tiempo, Mediolanun se convirtió en Milano, es decir, ¡Milán! De ello entendemos, por lo tanto, que, aparentemente, Milán fue fundada por los celtas.
Entre los meses de diciembre y febrero, los celtas celebraban el solsticio de invierno y el consecuente inicio del período en que sembrarían la tierra para cosechar el año siguiente. Durante esas celebraciones, los druidas, que eran los sacerdotes, compartían entre ellos un pan hecho de cebada, uvas y manzanas, y que era considerado sagrado.
Cuando los romanos conquistaron la región donde vivían los celtas, al menos 200 años antes de Cristo, algunos rituales de los celtas se incorporaron a los de los romanos, que también tenían varios. Uno de esos rituales, que coincidió con el de los celtas, fue la celebración del solsticio de invierno.
Para esa ocasión, los romanos solían encender muchas antorchas para iluminar la noche. Asimismo, solían comer mucho y también compartían unos panes dulces, muy parecidos a los de los celtas, preparados con cebada, frutas y miel. (¿Encuentran alguna semejanza con nuestras celebraciones navideñas en los días de hoy?)
A partir de entonces, fue una cuestión de unos pocos siglos hasta el nacimiento de Cristo pasar a ser celebrado en el mes de diciembre (hay teorías que indican que Jesús, en realidad, habría nacido entre marzo y abril) y que todas las tradiciones empezaran a fundirse, transformando el panetón en un alimento típico navideño en la península italiana – y luego en el Nuevo Continente.
¡Creo que ya escribí demasiado hoy, pero ello fue sólo el comienzo! Esa es la riqueza cultural de Italia: los orígenes se pierden en el tiempo, pero persisten en nuestras vidas, ¡y siquiera lo imaginamos! En los próximos posts, continuaré con las leyendas sobre el pandoro y el pandolce genovés, los cuales podríamos decir “primos” del panetón que vienen del Veneto y de la Liguria! ¡No se lo pierdan!
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