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Pectopah - Um Pouco Mais Sobre a Rússia

Passeando por São Petersburgo, deduzimos que a palavra “pectopah”, escrita no alfabeto cirílico, deveria ser “restaurante”, em russo. Isso virou meio que uma piada interna durante todo o passeio, tipo: vamos procurar um pectopah simpático pra almoçar? Só sei que entre pectopah aqui, pectopah ali, entramos em um onde falavam inglês. Não aguentei a curiosidade – e a vontade de me comunicar verbalmente depois de um tempinho falando mais com as mãos que na Itália – e perguntei para a recepcionista:

- Como se fala restaurante em russo?

Ela me respondeu com uma cara levemente sarcástica, ou como de quem não tinha entendido exatamente a pergunta e em um tom meio que de interrogação, mas com um sotaque muito marcado:

- “Restauran”?

- Sim, restaurante.

- Este restaurante? Steak House Str... – e foi dizendo o nome do restaurante onde estávamos.

- Não, só restaurante!

- “Restauran”?


Nesse ponto, a nossa mesa já estava pronta, eu estava morrendo de fome, pensei: deixa pra lá, era só curiosidade mesmo. Agradeci, sorri, fui pra mesa e esqueci do assunto. Frustrante, mas assim é a comunicação! Tem hora que dá certo, tem hora que não tem jeito! Já aconteceu com você?


É muito desagradável quando fazemos o possível para fazer-nos entender e nada! Nesse caso, era uma viagem de poucos dias, etc, mas quando a gente se muda de país é bastante complicado: você entra em um supermercado e tem que começar do zero: marcas, produtos, ingredientes, formas de pagamento, etc. No caso da Rússia, quem nos salvou foi a Parmalat! Pelo menos sabíamos que estávamos comprando leite!


Quando a gente está na América Latina, por exemplo, apesar do espanhol, é muito mais fácil. Eu, particularmente, gostei muito de morar no Paraguai, entre muitos outros motivos, porque as marcas lá são brasileiras e argentinas, ou seja, “de casa”! E o que é típico paraguaio, que preparam nos supermercados, é muito gostoso e muito parecido com o que a gente come. Me lembro bem, por exemplo, de uns alfajores enormes recheados com doce de leite e cobertos com coco ralado... uma delícia! Eles fazem também algo parecido com o pão-de-queijo, mas no formato de uma panqueca aberta, quentinho, com o queijo derretendo... é o “mbejou”! Nossa, como eu adorava o mbejou! Deu saudade agora!


Mas voltando à Rússia e ao tema da comunicação, foi interessante notar nosso comportamento depois de uns dias sendo obrigados a usar a comunicação não-verbal na maior parte do tempo. Em primeiro lugar, você se sente até meio burrinho! Em segundo, impotente... e em terceiro, se se deixar levar, vai se divertir como jamais se divertiria na vida normal! Por exemplo, começamos a dublar os comerciais, assim, de improviso – ou pelo menos descobrir o que estavam anunciando, isso nem sempre era assim tão óbvio! Para vocês terem uma ideia da dimensão do desespero: em casa, temos o sistema de gravar o que queremos ver e pular tudo o que não interessa, ou seja, fazia anos que não assistíamos a um comercial! E lá era o melhor da programação...


Mas engraçado mesmo – pra não dizer quase trágico! – foram os desenhinhos infantis... pelo seguinte: obviamente, controlamos tudo o que a nossa filha vê pela internet. Como ela ainda é pequena, começa a digitar letras aleatórias na ferramenta de busca y começa a sair tudo o que você possa imaginar em russo e coreano... ela sabe que, por mais que ela adore esses desenhos, ainda não pode assitir porque precisa aprender português e espanhol primeiro. Resumindo: foram pelo menos dois anos de um esforço danado pra ela não ver desenho em russo, mas como a vida é mais sarcástica do que a gente sequer possa imaginar, não deu outra: “vem filha, vem assitir a Masha original na televisão”...


Ainda sobre a comunicação não-verbal: adivinha o que quer dizer, em russo, dois arcos amarelos em forma de M com o fundo vermelho? Globalização, né? Além da Parmalat, identificamos algumas outras marcas “ocidentais” por lá. Algumas mantêm o nome original, como a Zara, H&M, United Colors of Benetton e Ray Ban. Outras mantêm o logotipo e traduzem o nome, como o McDonald’s e o Burguer King. Na coca-cola ninguém ousa tocar! É igualzinha, intacta!










A proposta deste texto não é discutir a globalização, mas um comentariozinho rapidinho eu tenho que fazer: quando você está no seu limite de fome, começa a chover, está viajando com uma criança pequena, não fala nem pectopah em russo, é alérgico a frutos do mar (ou seja, precisa saber exatamente o que tem no seu prato pra sair vivo dali) e encontra um McDonald’s, termina agradecendo ao “Tio” de todo o seu coração por estar presente no mundo todo!



Pra terminar, quero contar o final da história do pectopah; tem a ver com o sarcasmo da vida: decidimos entrar no Youtube para ver se finalmente aprenderíamos a pronunciar “pectopah” em russo. Não sei se rir ou chorar... aí vai a lição, repita comigo: pec = res; to = tau; pah=ran. Restauran...

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